9. Incêndios no Parque Estadual do Rio Vermelho, Florianópolis/SC – Brasil: uma ameaça à regeneração

Publicado 26/06/2018


 

Incêndios no Parque Estadual do Rio Vermelho, Florianópolis/SC – Brasil: uma ameaça à regeneração

*Aline Gabriela Klauck

 

No debate do historiador com o seu tempo, a temática ambiental se faz cada vez mais presente na historiografia contemporânea, e dentro desta, a abordagem relativa aos desastres ambientais certamente se constitui em um tema de grande relevância. São diversos os agentes que podem causar danos aos recursos florestais, e dentre eles, o fogo é considerado um dos mais danosos. Isto porque, todos os anos, os incêndios vêm destruindo grandes extensões florestais no mundo inteiro, de modo que florestas e demais tipos de vegetação são afetados pela ocorrência de incêndios de diferentes intensidades. Variáveis como o aumento da população, o acúmulo de materiais combustíveis e a incidência cada vez maior de causas humanas, principalmente os incendiários, vêm contribuindo para o agravamento da situação em muitos países (SOARES; SANTOS, 2002, p. 220).
De acordo com Ronaldo Viana Soares (2007, p. 59), as espécies florestais também exercem certa influência na propagação dos incêndios. Um povoamento puro de coníferas, das quais pertence o gênero Pinus, por exemplo, pelas características de inflamabilidade inerentes à espécie, apresenta um potencial risco de propagação do fogo maior do que de um povoamento de árvores folhosas. Em Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina – Brasil, a introdução das espécies exóticas Pinus spp. e Eucalyptus no Parque Estadual do Rio Vermelho, na década de 1960, propiciou o acontecimento de incêndios florestais de grandes proporções na capital catarinense.
O Parque Estadual do Rio Vermelho (PAERVE), está localizado na porção Leste da Ilha de Santa Catarina, na localidade de São João do Rio Vermelho, município de Florianópolis. A área do parque é de 1.532 hectares, sendo composta por 11% de Floresta Ombrófila Densa (Mata Atlântica), encontrada no Morro dos Macacos, 54% de restinga com diferentes alturas e composição de espécies e por 35% de ecossistemas alterados devido o plantio e a invasão de Pinus e Eucalyptus (FATMA, 2016).

Dentre os anos de 1962 a 1968, foram plantadas dezoito variedades de Pinus spp. com pequenas porções de Eucalyptus em seus intervalos, em cerca de 700 hectares de terra, o que levou a caracterização da cobertura vegetal da área como reflorestamento (DIAS, 2007, p. 76). O Parque Estadual do Rio Vermelho possui cerca de um terço de sua extensão reflorestada com eucaliptos e principalmente Pinus spp., sendo que este último proporciona as condições favoráveis para a ocorrência de incêndios.
Além disso, o Parque possui em suas instalações um camping, por onde todo ano, em especial nos meses de verão, circulam um grande número de pessoas que usam o fogo para diversas atividades, aumentando os riscos de incêndios. Nos meses de verão temos relatos da ocorrência da maioria destes incêndios, o ar seco e as altas temperaturas também fazem com que as folhas que se depositam no solo sequem mais rapidamente, favorecendo sua combustão (COSTA, 2003, p. 71).
De acordo com Ronaldo Viana Soares (2007, p. 59), as características desta vegetação facilitam a combustão pelo excesso de acúmulo de resíduos como acículas e galhos na serrapilheira, além do alto índice de substâncias resinosas nas raízes e caules das árvores deste gênero, fatores que se agravam em períodos de seca e estiagem (SANTA CATARINA, 1986, p. 3). O Brasil, por sua vez, tem recebido constantes advertências e críticas de organizações conservacionistas e instituições governamentais de outros países, pela falta de proteção de suas florestas contra o fogo. Todos os anos, temos inúmeras notícias sobre focos de fogo, incêndios e queimadas em nosso país, que, no entanto, não recebem estudos detalhados que possam nos informar precisamente a respeito do número de incêndios, da superfície queimada ou até mesmo dos danos causados (SOARES; SANTOS, 2002, p. 220).
Os incêndios no Parque são frequentemente noticiados em periódicos e demais meios de comunicação de Florianópolis e região, sendo que entre agosto de 2012 e fevereiro de 2014, foram relatados, respectivamente, incêndios do tamanho de “5 campos de futebol” e de 10 hectares de mata , que atingiram principalmente as áreas com reflorestamento de Pinus spp. Outros incêndios de grandes proporções, tomando como referência a área do Parque, ocorreram nos anos seguintes e foram também noticiados, como pode ser observado na Figura 03. Desta vez foi preciso montar uma força-tarefa para conter o fogo, que se alastrou rapidamente.

As causas dos incêndios, por sua vez, são normalmente atribuídas às características da vegetação de Pinus spp. e à facilidade com que se incendeiam no clima seco dos meses de verão, conforme já mencionado. É frequente, também, a afirmação por parte dos bombeiros de que o fogo pode ter sido iniciado por cigarros acesos descartados na mata, além das suspeitas de incêndios criminosos. O calor, a vegetação seca no solo e o vento forte também possibilitam o alastramento do incêndio. Em síntese, as causas podem ser consideradas acidentais, naturais ou ainda crimes ambientais.
Medidas profiláticas foram adotadas, como a abertura de aceiros, a construção de duas torres de observação em pontos que permitem boa visibilidade, e o desenvolvimento de trabalhos e campanhas educativas, com o objetivo de informar e sensibilizar a comunidade sobre a necessidade e a importância das ações de prevenção dos incêndios no Parque Estadual do Rio Vermelho (COSTA, 2003, p. 72). Não obstante, vemos que os incêndios e queimadas se repetem todos os anos, com maior ou menor intensidade, sem que medidas mais efetivas sejam tomadas.


Referências

COSTA, Luciano de Souza. Desenvolvimento de uma metodologia para auxílio à decisão em zoneamento de Unidades de Conservação. Aplicação ao Parque Florestal do Rio Vermelho. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003.

DIAS, ADRIANA CARLA. Base Metodológica de Gestão Ambiental Integrada em Unidades de Conservação com ênfase em Sistema de Interesses. 148 f. Tese (Doutorado em Engenharia Ambiental) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007.

FATMA. Parque Estadual do Rio Vermelho. Disponível em: http://www.fatma.sc.gov.br/conteudo/parque-estadual-do-rio-vermelho. Acesso em: 27 set. 2016.

SANTA CATARINA. Secretaria da Agricultura e do Abastecimento. Plano de Proteção Florestal para o Parque Florestal do Rio Vermelho. Parte I: abertura de aceiros. Florianópolis, SC, 1986.

SOARES, Ronaldo Viana; BATISTA, Antonio Carlos. Incêndios florestais: controle, efeitos e uso do fogo. Curitiba: Ed. dos Autores, 2007.

SOARES, Ronaldo Viana; SANTOS, Juliana Ferreira. Perfil dos incêndios florestais no Brasil de 1994 a 1997. Revista Floresta, Curitiba, v. 32, n. 2, p. 219-232, 2002.


 

 

 

 

 

*Aline Klauck

Bacharel e licenciada em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Atualmente é mestranda do Programa de Pós-Graduação em História da mesma universidade, e bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (Capes). É integrante do Laboratório de Imigração, Migração e História Ambiental – LABIMHA. Seus estudos e pesquisas concentram-se sobretudo nas questões relacionadas à História Ambiental, Abastecimento de Água e História urbana no século XIX no Brasil.

E-mail: alineklauck@hotmail.com

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